-Alô,
senhor Crawford? –Uma voz
desconhecida perguntou.
-Sim,
sou eu.
-Chace
Crawford, certo?
-Sim.
Quem está falando?
-Aqui
é do Hospital Central. Sua esposa sofreu um acidente e deu entrada e
infelizmente não resistiu. Nem ela e nem o bebê.
-Não! –Chace
acordou com seus próprios gritos. –Não. Não pode ser.
-O que
houve, rapaz? –Magan perguntou abrindo a porta.
-Nada. Só
outro pesadelo, desculpe.
-Você
precisa procurar ajuda. Nunca vi isso acontecer com você antes.
-Eu só
preciso da Vanessa do meu lado, só isso.
-E quando
você viaja?
-Na
próxima semana, não se preocupe.
-Boa
noite, rapaz.
-Boa
noite.
Droga!
Eles não se falavam desde a noite de ano novo quando ela tinha dito que tinha
acabado e desligado na cara dele. Mas o que terminou? O casamento? A paciência
dela? O amor? Pegou no telefone nervoso e logo colocou pra chamar.
-Outro
pesadelo?
-Sim. –Suspirou.
-O que
foi dessa vez? –Victoria perguntou cansada.
-Ela
morria. Ela e o bebê.
-Senhor
Chace, sua esposa não está grávida.
-Mas
poderia estar.
-Acho que
ela já teria avisado se estivesse.
-Isso não
importa. Uma coisa é a Vanessa me deixar e outra bem diferente é ela morrer.
-As duas
situações podem acontecer.
-Eu não
vou permitir.
-O senhor
está deixando os seus medos lhe perseguirem durante o sono. O seu casamento
está em crise, tudo pode acontecer. O senhor tem que aceitar isso. Depois,
pense em meios de defender seus pontos de vista.
-Não
interessa o que ela quiser debater, eu vou contra-atacar.
-O senhor
sabe que não pode obrigá-la a continuar casada se não quiser, não sabe?
-Sim,
estou mais do que ciente disso, mas isso não vai me impedir de lutar.
-Boa
sorte. Tome os tranquilizantes e volte a dormir. Temos uma bateria de exames
para realizar amanhã cedo, ou melhor, daqui a pouco.
-Eu
preciso ligar pra ela, tenho que saber se ela está bem.
-Cuidado,
muito cuidado. Não a pressione.
-Não
irei. –E desligou. Não importava, ela ia se sente pressionada. Mas ele
precisava ligar. Não podia ser no celular, ela ignoraria.
-Alô? –Uma
voz masculina atendeu.
-Quem
está falando? –Chace
perguntou nervoso.
-Alex.
Quem é?
-Chace.
-Há
quanto tempo, Crawford. –Alex pareceu surpreso. –Faz o que? Um mês?
-Por aí.
Um mês e alguns dias. Onde está a Vanessa?
-Saiu com
a Ashley e o Zac. Foram buscar o almoço.
-E você
está no apartamento sozinho?
-Com a
Nina e o Ian.
-E eu! –Ele
ouviu Miley ao fundo.
-É,
com você também. –Alex disse revirando os olhos. –Aconteceu
alguma coisa? Você parece nervoso.
-Eu só preciso
falar com a Vanessa.
-Ela não
deve demorar. Se quiser esperar. –Ele ouviu risadas. –Olha ela aí. Vanessa, telefone.
-Quem
é? –Ele ouviu a voz dela ao fundo.
-Seu
marido. Parece preocupado. –Ela bufou.
-O que
foi? –Ele ouviu a voz zangada da esposa.
-Você
está bem?
-Porquê
não estaria?
-Eu tive
um pesadelo.
-É a sua
consciência pesando.
-Pode
ser. O que me preocupa é que não é a primeira vez e não se limita a apenas uma
situação. Vai variando, mas você sempre me deixa.
-Talvez
seja um presságio.
-Não diga
isso. Eu preciso que você me anime e não que me faça procurar uma ponte para me
jogar.
-Chace,
só foi um sonho ruim.
-Porquê
você disse que acabou? O que acabou? Você quer me deixar?
-Muitas
coisas acabaram. O ano, as férias, minha paciência... Eu decidi que vou ser
outra pessoa. Uma pessoa feliz custe o que custar.
-Você
quer me deixar? –Ele tornou a perguntar.
-Acho que
nós dois sabemos quem deixou quem aqui.
-Eu não
te deixei.
-Você não
me chamou pra ir com você. –Acusou.
-E você
teria vindo?
-O que
você acha? Lógico que sim.
-Você
largaria a sua festa? Seus amigos?
-Eu
sempre fiz de tudo pra ficar com você, não se lembra?
-Mas eu
achei...
-Achou
errado. E de qualquer forma, nada justifica. Você me deixou, por isso, não
venha exigir nada depois.
-Eu só
quero você comigo.
-E eu
quero ser feliz. –Suspirou e ele sabia que ela estava segurando as
lágrimas. –Volte a dormir. Eu ainda estou aqui pra você.
-Ainda.
-Não
abuse.
-Eu amo
você.
-Eu
também.
[...]
-E então? –Z
perguntou trancando a porta. Estavam sozinhos novamente.
-Amor,
por favor. Só quero dormir.
-Ele
ligou e você ficou estranha.
-Só estou
preocupada. Ele vai lutar e eu tenho medo das armas que ele vai usar.
-Eu sei
me defender.
-O Chace
sempre deixou claro que se um dia eu o deixasse por outro, ele o mataria.
-Ele não
seria capaz.
-Seria
sim. Eu o conheço. Ele tem mais dinheiro do que instabilidade mental.
-Não se
preocupe, Vanessa. Ele não é assassino.
-Mas é
louco.
-Louco de
amor por você.
-Pior
tipo de loucura. –Disse o abraçando. –Eu não quero que nada de ruim
te aconteça.
-E não
vai. Nós vamos da um jeito nisso.
-Promete?
-Prometo. –A
beijou. –Vamos dormir?
-Só mais
uns beijinhos.
-Você
bebeu. –Ele avisou.
-Não tem
problema. Eu me controlo.
-Acho
bom.
[...]
-Achei
que você se controlava. –Ele disse rolando na cama.
-Você
também queria. –Vanessa disse tentando controlar a respiração.
-Impossível
não querer você, mas mesmo assim. Droga! Eu tinha dito que não ia mais acontecer.
-Mas
aconteceu. Sem arrependimentos.
-Nunca
mais.
-Tudo
bem. –Sorriu. –Estou mais tranquila agora, eu precisava disso. Por
favor, sem brigas.
-Só por
que você pediu com jeitinho. –Ele sorriu. –Você toma remédio, não é?
-Sim.
Parei por um tempo, mas já voltei de novo.
-Por
quanto tempo?
-Uma
semana só. Porquê?
-Por
nada, só quero te assustar. Eu sempre uso camisinha.
-Seu
idiota. –Disse lhe dando um tapa no peito. –Você sabe que eu detesto
criança.
-Devia te
engravidar de propósito.
-Faça
isso pra você vê. Será o primeiro e último. Te capo logo depois. –Ele
gargalhou. –Eu falo sério.
-Eu
acredito. –Z disse puxando-a para mais perto. –Porquê essa aversão?
-Por que
sim.
-Nunca
mudou?
-E nem
vai mudar.
-E seus
bebês? Não os queria com você agora?
-Queria,
mas não é possível e isso é bom. Eu não seria boa mãe.
-Acho que
você seria sim. Teve uma ótima criação.
-Sim, eu
sei, mas eu não saberia o que fazer. Nem sempre concordei com o Chace. Como
seria quando ele quisesse fazer algo e eu outra coisa?
-Isso faz
parte do pacote do amadurecimento.
-Não
quero. –Ela disse escondendo o rosto no pescoço dele.
-Eu sei,
já percebi. Você continua a mesma. Mudou apenas no físico, mas o psicológico é
o mesmo e eu não quero nem falar do emocional.
-E por quê
não?
-Você não
vai deixar de amá-lo. Nunca. Se eu posso viver com isso? Talvez.
-Como
você tem tanta certeza?
-Você
nunca deixou de me amar.
-Eu não
quero pensar nisso agora. –V disse se levantando e procurando suas roupas.
-Mas
precisa. Estamos juntos, mas como amantes. Você ainda pode voltar atrás.
-Zac, por
favor.
-Vanessa,
você não pode fugir disso pra sempre.
-Eu só
não quero encarar isso agora. Acabamos de fazer amor.
-E pode
ser a ultima vez.
-Por
Deus, não!
-Você é
dependente dele, não negue.
-E de
você também.
-Mas você
pode viver sem mim, já fez isso antes. O que me preocupa é se você consegue
viver sem ele. Ele te acompanhou no processo de
menina-mulher. Foi por ele, na verdade. Isso não vai mudar.
-Eu não
quero resolver isso agora, por favor. Estávamos tão bem.
-E nós
estamos bem, mas você me preocupa. Quem você ama mais; é isso o que eu quero
saber.
-Eu não
sei. Simplesmente não sei. –Suspirou. –Por favor, vamos pedir o
jantar? Comida chinesa ou pizza?
-Comida
mexicana.
-Nachos e
Tacos?
-Tortillas
também, por favor.
-Sim,
senhor.
-Ei, vem
cá. –Ela se aproximou da cama e ele a puxou. –Eu te amo.
-Eu
também te amo.
[...]
-Isso é
errado, Ashley. Eu os amo, os dois. –V disse abraçando o travesseiro mais
forte.
-É
perceptível.
-Como
isso é possível?
-Eles são
boas pessoas, tanto o Zac quanto o Chace. Ele sempre te tratou bem, eu tenho
que admitir. Os métodos de proteção obsessiva eram uma prova de amor.
-Eu sei.
Isso não deveria ser possível. Como Deus pode permitir isso? Amo meu marido e
meu ex namorado que agora é meu amante. Isso não deveria ser possível.
-Deus
sabe o que faz. Tudo tem um propósito. Não sei qual é o seu e espero que você
descubra logo. Eu não queria está na sua pele.
-Nossa,
muito obrigada.
-Não
precisa chorar também. Você está muito emotiva.
-E não
tenho razão? Minha vida está de cabeça pra baixo e eu não sei o que fazer. Eu
amo dois homens e eles me amam e querem ficar comigo. O Zac é maravilhoso.
Sempre paciente, dedicado, honesto. O Chace é idêntico a ele. As diferenças são
mínimas.
-Me conte
em que ano o Chace foi assim por que eu nunca percebi. Desculpe, mas sempre
achei ele um pouco rude.
-E ele é,
mas com os outros. Você tinha que vê-lo no início do nosso relacionamento. –Vanessa
sorriu nostálgica. –Ele era tão doce. Sempre me colocava no colo, eu era a
sua neném. Escolhia minhas roupas, me dava banho e nunca avançou sem perguntar
duas vezes se eu realmente queria
fazer. Ele me machucava no início e ficava péssimo depois.
-Ele já
tinha mania de obsessivo. Suas roupas? Banho?
-Ele
queria ter a certeza de que eu estava bem e as roupas, bem, eu não me
importava. Não queria fazer feio nos jantares da empresa e deixava.
-Se ele é
o que é, a culpa é sua. Você nunca impôs limites.
-Não e
nem me importava. Ele começou a fazer viagens e isso nos afastou um pouco.
Depois de sofrer o primeiro aborto, ele voltou a ser como era. Ele era sempre
doce, sempre. Eu fiquei muito dependente dele.
-Você
ainda é dependente dele. Se você está me contando isso é por que sente falta.
-É lógico
que eu sinto.
-Mas não
deveria. Não que seja errado, mas você está com o Zac agora. Mesmo antes de
vocês ficarem, você só falava no Chace.
-Eu o
amo.
-Tem
certeza de que ama o Zac?
-Tenho.
Ele é um anjo. Sempre dócil e amável. Uma das pessoas mais pacientes e castas
que eu conheço. Ele merece ser feliz e eu sei que eu posso fazê-lo feliz. Eu
quero ser o motivo do sorriso dele. O Zac é tão precioso.
-Ele é um
amigo e tanto. Eu sei que fui um pouco grosseira naquele dia no aeroporto, mas
foi necessário. Eu vi como ele ficou quando vocês terminaram. Conheci ele e o
Alex meses depois. O Zac passou pelo inferno na terra. Me doeu tanto, sabe? Ele
parecia um bom rapaz e estava no fundo do poço.
-Porquê
ele me deixou? Você sabe?
-Vanessa,
não é da minha conta.
-Eu sei
que não foi por que ele não me amava, ele já confessou isso.
-E o que
você quer que eu diga? Não posso me meter.
-Eu só
quero a verdade.
-Pergunte
a ele. Como que o assunto veio parar aqui, afinal? Estamos falando de
sentimentos. Me diga mais sobre o passado.
-Chace?
-Sim,
pode ser sobre ele. Você parece tão nostálgica com o relacionamento de vocês.
-Foi bom,
Ashley. Um dos melhores que eu tive ou imaginei ter. Nunca quis me casar e
formar uma família. Sempre pensei que iria conseguir um emprego, morar sozinha
e essa seria minha independência, mas minha vida mudou de uma hora pra outra e
aqui estou eu: casada e querendo filhos. Ou eu queria, eu não sei mais.
-Me conte
sobre os bebês. –Ashley pediu. Sabia que se Vanessa começasse a fala, ela
mesma saberia o que fazer.
#Flashback#
-Não sei
por que eu tive que vir. –Chace resmungava.
-Eu
também não, mas ela exigiu a sua presença. –V disse se referindo a sua
médica, Dra. Olívia Bucker.
-Espero
que não seja por bobagens. Tive que cancelar duas reuniões importantes e...
-Não
quero saber. –Ela o interrompeu. –Só quero te avisar uma coisa: se
tiver me passado alguma doença, você vai se arrepender.
-Que
doença, Vanessa? Você sabe muito bem que é a única.
-Será? –Disse
dando duas leves batidas na porta do consultório. Ouviu um "entre"
e girou a maçaneta. –Bom dia, Olívia.
-Como
vai, senhora Crawford? –A médica a cumprimentou se levantando. –Senhor
Crawford, que bom que veio.
-É bom
ser algo relevante, Dra.Bucker. –Ele disse.
-Eu acho
que é algo do seu interesse, senhor.
-Espero. –Ele
disse se sentando. –E então?
-A
senhora Vanessa me informou que sentiu dores durante algumas relações sexuais.
-Não
tenho culpa de ser bem dotado.
-Eu não
quis acusá-lo. Ela não soube me responder, mas o senhor se lembra de sentir
algum líquido escorrendo?
-Não, eu
não lembro. Já faz um bom tempo que não a toco.
-Um
mês. –V disse revirando os olhos.
-Tempo
demais.
-Bem... –Olívia
disse remexendo nos papéis. –Ela também me disse que sentiu alguns enjoos
e tonturas. O senhor presenciou?
-Algumas
vezes.
-Eu pedi
para ela fazer alguns exames de rotina e alguns de sangue. Eu notei que haviam
algumas alterações se compararmos aos exames anteriores e...
-A
senhora pode ir direito ao assunto, por favor? –Chace disse e Vanessa não
conseguiu evitar: deu-lhe um tapa no braço. –O que foi? Eu tenho mais o
que fazer.
-Não
quero saber. Você poderia pelo menos se fingir interessado na minha saúde?
-Eu me
importo.
-Não
minta.
-Está
vendo? –Ele disse olhando pra médica. –Ela ficou louca. Uma hora quer
algo e logo depois muda de ideia e me xinga por isso.
-Eu sou a
louca? Você que mudou de comportamento de uma hora pra outra, e de acordo com
os psicólogos, os homens que mudam de forma repentina estão traindo suas
esposas.
-Eu já
disse que não te traí, mas se você continuar insistindo nesse assunto...
-Eu mato
você.
-Me
poupe. Se eu te der um tapa você voa.
-Me
agrida pra você vê.
-Senhores,
por favor. Estou tentando lhes preparar para a notícia. –A médica disse.
-Dra.Bucker, vá direto ao assunto, por favor. –Chace disse exasperado.
-Estou
doente? É isso? Ele me passou uma DST? –V perguntou nervosa.
-Não,
Vanessa, você não está doente. Nenhum tipo de doença ou algo do tipo. É uma
coisa boa na verdade. Pelo menos eu vejo assim. Vocês podem pensar de outra
forma já que estão em crise, mas...
-Conte
logo. –Chace ordenou a ponto de explodir.
-A
senhora Vanessa está grávida de seis semanas! É uma maravilha termos descoberto
tão cedo e...
-O quê?
Não é possível.
-Na
verdade, é. Ela parou de tomar o anticoncepcional por um tempo.
-Mas eu
usei camisinha durante os sete dias.
-Que pode
ter estourado ou então poderia estar com um furo mínimo. Por isso eu perguntei
se não sentiu nenhum líquido.
-Não, não
é possível. –Chace passou as mãos no cabelo.
-Como
você pode? –Vanessa gritou olhando pra ele. –Você sabe a minha
opinião sobre isso. Já não basta me largar? Tem que me deixar com um pirralho
pra infernizar a minha vida? Preferia uma doença, até mesmo a morte.
-Eu vou
deixá-los a sós por alguns minutos. –Olívia disse indo até a
porta. –Por favor, não destruam minha sala.
-Você é
um imbecil, um inútil. –Vanessa acusou assim que a médica fechou a
porta. –Não sabe nem checar uma camisinha?
-A culpa não
é minha senhora "não-fico-quieta-porque-dói". Se rasgou foi
por que você não lubrificou direito.
-Agora eu
tenho a culpa por você ter sido bruto? Me poupe. Você estragou a minha vida,
minha juventude. Como você pôde? –V gritou aos prantos.
-Vanessa,
eu não tenho culpa. Você acha que eu quero um filho? Já te falei que não quero
te dividir com ninguém, muito menos com um bebê.
-Eu não
quero essa criança.
-Eu
também não, mas nós não vamos tirar. Aqui é legalizado, mas eu não vou
permitir.
-Eu não
sou assassina, lógico que não vou fazer isso. Porquê, Chace? Porquê você fez
isso comigo? Eu não tenho condições de criar uma criança sozinha. –Ela
disse e ele a abraçou.
-Você não
está nessa sozinha.
-É claro
que estou. Você não tem tempo pra mim, quem dirá para um filho. Eu não vou
suportar mais isso.
-Eu já te
falei que tenho que fazer minhas viagens de negócios. Elas beneficiam a minha
empresa e a nós também, é claro.
-Eu não
quero saber. Eu não fiz sozinha, eu não vou criá-lo só. Você de o seu jeito de
evitar essas viagens ou então passe a me levar com você.
-Eu vou
vê o que posso fazer.
-Não vai
vê nada. Ou isso ou eu vou embora. Minha mãe vai cuidar de mim de verdade.
-Eu nunca
te maltratei.
-Não no
físico, mas no emocional sim.
-Nós
vamos da um jeito, não se preocupe.
#Fim do Flashback#
-E então? –Ashley
perguntou animada fazendo Vanessa sorrir. Parecia que estavam falando de uma
novela e não da vida real.
-A
doutora voltou e me levou para fazer alguns exames. Pegamos alguns medicamentos
e voltamos pra casa.
-E o
príncipe encantado fica aonde nessa história?
-Ele
voltou a me tratar como no início do nosso relacionamento, como uma verdadeira
rainha, mas é como eu já disse antes: não tinha condições físicas.
-E como
foi? Vocês brigaram? Ele estava em casa? E as viagens?
-As
viagens cessaram um pouco, mas ele me levou em algumas. Nós brigávamos, mas não
como antes. Ele me irritava como ninguém algum dia poderia fazer. Não era
proposital, mas eu não conseguia evitar. O modo de andar, de falar, o cheiro.
Eu o detestava por completo.
-E ele
não te tocou nesse tempo?
-Por
incrível que pareça, eu gostava de dormir abraçada a ele. Só assim ele não me
incomodava; inconsciente. Fizemos amor somente duas vezes. Foi normal na
primeira vez, mas na segunda...
-Doeu?
-Parecia
que ele queria colocar um caminhão na vaga de uma moto, sabe? E ele foi super
carinhoso como sempre, mas não tava dando. Não sei, meu corpo não conseguia
aceitar.
-E ele?
-Parou.
Ele nunca forçou nada, pelo menos não sexualmente.
-E o
aborto?
-Ashley,
é difícil. –V disse brincando com os dedos sem encará-la.
-Eu sei,
mas estou curiosa.
-Eu tinha
quase três meses. Estávamos nos preparando para um almoço de negócios e
começamos a discutir porque eu queria ir de calça e ele queria que eu fosse de
vestido. Eu não sei se com algum ex seu foi assim, mas quando nós não
transávamos, parecia que toda a carência do mundo entrava nele e saía em forma
de raiva.
-Frustração
sexual.
-Isso!
Bem, ele me jogou na cama e arrancou a minha calça. Disse que preferia perder
negócio do que me deixar sair vestida como uma... "adolescente
problemática e desobediente" ou algo do tipo, não me lembro direito.
Enfim. Discutimos e eu troquei a minha camisa por uma dele e disse que então eu
ficaria em casa. Ele concordou e eu avisei que estava com fome. O Chace pode
fazer o que for, mas ele sempre atende aos meus desejos. Ele foi até a cozinha
pra me trazer frutas –recomendação médica, e eu fui pro banheiro. De
repente me deu uma vontade de ir, sabe? Mas não saiu nada e começou a doer. Era
como se algo estivesse querendo sair, mas não saía e só restava a dor. Eu me
sentei na cabeceira da cama e esperei passar de olhos fechados. Só notei que
ele tinha voltado depois de escutar o barulho de algo quebrando no chão. Ele
começou a gritar pelos empregados e pra prepararem o carro e eu não entendia
nada. Ele estava me irritando, na verdade. A minha dor só aumentava e aquele
homem não parava de berrar e de revirar o meu armário. E de repente, ele se
virou e eu vi lágrimas. Foi meio chocante: o meu esposo, um dos homens mais
duros que eu já conheci, Chace Crawford, chorando? Ele se aproximou e me tocou
na barriga e eu olhei pra baixo pela primeira vez desde que tinha começado a
doer. Só lembro de ver sangue, muito sangue. Eu apaguei logo que ele me colocou
no colo.
-Então
você não viu quando chegou no hospital? Nem se seu filho poderia sobreviver?
-O Chace
me disse que nós chegamos tarde demais e que na verdade eu tive sorte de não
ter morrido também. Foi horrível.
-E como
te contaram?
-Quando
acordei eu ainda sentia dor, mas era diferente. Me sentia violada, sabe? Algo
me faltava. Ele se aproximou de mim e segurou nas minhas mãos. Eu soube assim
que vi o seu rosto.
-Triste?
-Transtornado.
Algo me diz que ele já amava a criança. Ele até mudou depois disso. Não
suportava falar de crianças e depois passou até a brincar com os primos
pequenos.
-E você
foi pra casa chorar?
-Eu
passei um longo tempo no hospital. Eu nunca tive uma boa alimentação e não sei,
fiquei muito fraca. Acho que foram quase três meses vivendo ali.
-E o
Chace?
-Ele não
saía de lá. Acho que algum empregado trazia e levava as roupas por que ele
nunca desaparecia por mais de cinco minutos e quando isso acontecia era por
ordem médica.
-E em
casa?
-Do mesmo
modo. Trabalhava no quarto e depois passou a ir até o escritório para dar
telefonemas. Eu vivia dopada, então nem ligava.
-E o
segundo?
-Podemos
da uma pausa?
-Não.
Você disse que ele tinha brigado com o seu professor de fotografia da Índia.
Como vocês foram pra lá?
-Depois
do aborto a gente não conseguia mais ficar naquela casa. Era uma bela casa, mas
era triste. Ele conversou comigo por que as viagens não cessariam já que a
empresa dele ficava na Índia e nós morávamos na China, o lugar perfeito para
negócios. Então decidimos nos mudar e fomos. Passamos a dividir a casa com um
sócio dele. Engravidei seis meses depois do incidente, com onze meses de
casada. Eu tinha iniciado o curso assim que tínhamos nos instalado.
#Flashback#
-Chace,
hoje não. Estou cansada.
-Você vem
dizendo isso há quase um mês. Hoje não, ontem também não, antes de ontem,
semana passada... Estou ficando cansado disso.
-Eu
acordei antes do nascer do sol para fotografar, entenda.
-O seu
curso está nos atrapalhando.
-Está me fazendo
ser útil, isso sim.
-Não para
mim.
-Isso já
não é problema meu. Você quem insistiu nesse curso, não vou parar agora.
-Você mal
fica comigo. Não me beija e raramente me toca. Você conheceu alguém?
-Essa é a
coisa mais absurda que já ouvi na vida. Você sabe que eu nunca faria isso, e
caso acontecesse, você seria o primeiro a saber.
-Então o
que é? Sinto sua falta imensamente.
-Desculpe,
eu tenho meus trabalhos pra fazer.
-Vou
conversar com o seu professor a respeito disso.
-Você não
vai. Não sou nenhuma criança, sou uma mulher adulta.
-E
casada. Não pode sair fotografando a cidade a qualquer hora como se não devesse
satisfação a ninguém.
-E você
pode sair pelas festas da vida sem hora pra voltar e tendo o direito de
reclamar quando te pedem satisfação, não é? –Ela ironizou.
-São
festas de negócios.
-Isso não
muda nada. Eu sei que existem mulheres oferecidas que fariam de tudo pra ganhar
apenas um beijo seu nesses lugares.
-A única
mulher que me interessa é você.
-Grande
coisa. –Revirou os olhos. –Vamos dormir, por favor?
-Tudo
bem, mas fique ciente de que eu vou conversar com o seu professor amanhã.
-Chace!
-Pode me
chamar pelo meu nome completo se quiser, não vai mudar nada. –Ele disse
apagando a luz do abajur e ela revirou os olhos.
Se sentia
uma criança prestes a ser motivo de piada depois de uma visita surpresa de seu
pai na escola depois de mau comportamento em casa.
Não que
ela se importasse muito com isso. A maioria dos seus colegas de classe eram do
sexo feminino e elas sabiam muito bem o que era ser pressionada pelo
companheiro.
A reação
dele ao sexo masculino que era preocupante. Não que ela pudesse algum dia se
interessar pelos seus colegas de sexo masculino, afinal, não faziam seu tipo,
mas o professor seria um problema.
Ele era
um homem alto e musculoso no auge dos seus 30 anos. Tinha olhos castanhos e
cabelos negros e era natural de Crawley, Reino Unido. Era um colírio aos seus
olhos, ela não podia negar, mas também nunca imaginou os dois em uma relação
que não fosse professor-aluna. Chace concerteza veria diferente.
#Fim do Flashback#
-E então? –Ashley
questionou mastigando uma batata-frita.
-Foi dito
e feito. Ele acordou cedo e tomou café. Eu preferi ir em jejum já que tínhamos
combinado um desjejum coletivo já que era a semana de algum deus indiano.
Quando chegamos o meu professor estava alegrinho demais e Chace logo foi tirar
satisfações com ele a respeito dos horários das atividades ao ar livre.
"Peyton,
meu professor, mostrou o seu planejamento do semestre passado e do que
iniciaria logo e explicou que eram os melhores horários para as fotos perfeitas
e etc. Eu me afastei já que minhas colegas estavam intrigadas com a visita do
meu marido e fui tentar distraí-las. Você não faz ideia de como as mulheres
indianas podem ser oferecidas.
"Só
sei que enquanto me servia com um pouco de suco eu ouvi os gritos e a euforia
vindo da sala de aula. Corri e me deparei com o meu marido esmurrando o meu
professor que estava a todo custo tentando proteger suas partes e seu belo
rosto. Me enfiei no meio e na tentativa de me afastar o Chace me empurrou forte
demais me fazendo bater contra a mesa. Só sei que senti aquela dor novamente,
mas muito mais forte. Acho que foi pelo impacto.
-E ele?
-Parou no
instante que eu berrei. E então tudo se repetiu. Dor e sangue. Como não tinha
me alimentado, desmaiei assim que vi o sangue.
-E então?
-Acordei
no hospital, mas dessa vez foi diferente. Não estava só o Chace no quarto, mas
a mãe dele também.
-Mas ela
não te odiava?
-Isso que
me deixou intrigada. Eu fui tentar me mexer e senti a agulha enfiada na parte
de cima da minha mão direita e outra no meu braço esquerdo. Não consegui
controlar o gemido e eles me notaram. Ele se aproximou e me disse que eu tinha
ficado desacordada por quase dois dias.
-E
porquê? O que tinha sido diferente?
-Eu não
me alimentava direito por conta dos enjoos e assim fiquei fraca.
-Ah,
Vanessa. O que eu faço com você?
-O Chace
falou a mesma coisa. –Ela sorriu. –Então ele se sentou na cama e me
contou que eu tinha abortado. De novo.
-E você?
-Fiquei
chocada. Tinha descoberto que estava grávida mas que não estava mais. Foi
confuso e doloroso.
-E sua
sogra? O que ela fazia lá?
-Chace
tinha pedido socorro por que eu precisava de transfusão e ela era compatível.
Aí eu notei que tomava tanto soro quanto sangue.
-Que
barra, hein?
-Nem me
fale. Eu agradeci e ela apenas acenou com a cabeça. Ela estava com os olhos
úmidos...
-Por
você?
-Duvido. –Gargalhou. –Com
certeza era pelo filho. Ele estava mais arrasado do que da ultima vez.
-E quando
você foi pra casa?
-Dois
meses depois. Precisei ganhar peso e aumentar a minha taxa de glóbulos brancos.
-E a
terceira vez?
-Foi a um
ano atrás, no nosso aniversário de casamento. Estávamos afastados por conta dos
eventos de final de ano da empresa já que ele mal parava em casa. Estava me
sentindo enjoada e cansada demais e qualquer coisa me irritava ou me deixava
deprimida. A Dona Kalika me chamou pra conversar depois de uma discussão boba
minha com a Uma, filha dela, e me perguntou o que estava acontecendo. Só aí eu
parei pra analisar o que eu estava passando e simplesmente disse "acho que estou grávida". –V
disse sorrindo.
-Matou a
velha? –Gargalhou.
-Não, mas
quase. Ela disse que se fosse verdade era uma benção já que eu tinha perdido
antes, e bem, isso não é muito bem visto lá. Fui no hospital e depois de um
exame rápido, e uma pequena fortuna para receber o resultado no mesmo dia, eles
confirmaram minhas suspeitas. Liguei logo pro Chace, o que definitivamente, foi
o meu pior erro. Ele foi grosso e hostil. Engoli a raiva e pedi gentilmente pra
ele chegar um pouco mais cedo em casa porque precisávamos conversar. Ele disse
que ia tentar e desligou.
-Tensão
sexual reprimida.
-Eu sei,
mas aquilo me magoou de qualquer maneira. E como eu já disse antes, ele chegou
de madrugada e discutimos. No meio da briga eu senti pontadas de dor, mas
ignorei e continuei a rebater as afrontas dele. Ele estava bêbado e eu estava
muito decepcionada. De repente eu senti um líquido escorrer pelas minhas pernas
e aquela maldita dor voltar novamente. Só lembro de segurar o meu ventre e
falar: "Sabe o motivo do meu pedido para você chegar cedo? Era
isso que eu queria te contar: Estou grávida. Ou estava. Me leva pro hospital,
agora.".
-E ele?
Gritou?
-Muito.
Acordou todos na casa e me carregou até o carro e passou o caminho inteiro me
pedindo desculpas. Eu estava tão zangada com ele.
-E com
razão. Ele matou o seu bebê.
-Eu disse
isso pra ele. "Se ele
morrer, a culpa será sua.". Acho que aquilo foi a morte pra ele. Essa
foi a pior de todas as perdas. Eu não desmaiei e senti todas as dores. Mesmo
com a anestesia geral eu ainda fiquei acordada e senti quando fizeram a
raspagem. Preferia morrer a passar por aquilo novamente.
-Eu
imagino.
-Não,
Ashley. Essa é uma das situações que quando uma pessoa diz isso ou aquele
famoso "eu entendo" a gente ri pra não chorar, por que é óbvio que a
pessoa não sabe ou entende ou imagina.
-Desculpe.
-Tudo
bem. Quando me acomodaram no quarto ele estava lá me esperando. Prendi a
respiração pra tentar controlar as lágrimas, mas aquilo só aumentava a dor e o
vazio no meu ventre. Ele continuava a me pedir desculpas no meio do choro. Foi
uma cena realmente deprimente. Odeio vê-lo chorar; ele parece tão impotente.
Esperei os enfermeiros saírem e só sussurrei "feliz
aniversário de casamento" e me virei pro outro lado.
-Você é
tão má.
-Me doeu
fazer aquilo, mas a dor da perda foi pior. Eu queria aquele bebê, achei que
seria ótimo como presente de aniversário e seria um novo recomeço pra nós dois
e de repente eu não o tinha mais.
-A
Vanessa. –Ashley disse a abraçando. –Me desculpa, eu não queria te
fazer chorar.
-Não é
você, baby, é ele. Ele. Eu
não o quero mais na minha vida, mas eu ainda sinto algo por ele e acho que
sempre vou sentir. Ele foi o meu primeiro homem, ele me tornou a mulher que eu
sou hoje. Ele me deu a mão quando eu mais precisei e me ajudou a superar o
rompimento com o Zac. Ele curou as minhas feridas com beijos e abraços. Não
posso esquecer isso, é impossível. Só que nada disso é motivo suficiente para
lutar por ele novamente. Não quero mais isso pra mim. Quero ser feliz ou pelo
menos morrer tentando. –V disse enxugando os olhos. –Eu já fiz a
minha escolha.
-Zac?
-Zac.
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ZAC \O/ Quem gostou do capítulo levanta a mão? Ok, espero que todas. Já estou terminando o capítulo 42 porque tempo livre é o que não me falta sçlaskals. Well girs, quero agradecer aos comentários. Vocês são muito afoitas, nossa. A Candice ainda vai aprontar muitas pra cima da Vanessa, mas vai ter volta, não se preocupem. Queria divulgar um blog. Love Track da Bea. Está no segundo capítulo e já está tendo babado. Deem uma passadinha por lá e se divirtam. Como eu demorei um pouco pra postar, aqui deixo uma prévia do capítulo 42.
******************************** Capítulo 42 ********************************
-Eu também te amo. Quer comer o que no café da manhã?
-Você. –Sorriu
maliciosa.
-Vanessa!"
********************************Capítulo 42 ********************************
Xx